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O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (8) mudar o ritmo de corte da taxa básica de juros (Selic). Depois de promover seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual, a diretoria do BC anunciou uma queda de 0,25 ponto percentual na taxa, que passou de 10,75% para 10,50% ao ano.
O presidente do Bacen, Roberto de Oliveira Campos Neto, e outros quatro diretores votaram pelo corte menor. Os quatro indicados pelo governo Lula votaram por uma redução de 0,50 ponto. Entre eles, o diretor Gabriel Galípolo, cotado para ser o próximo presidente da instituição.

A decisão veio em linha com a expectativa de vários economistas, mas a visão do BC não era unanimidade no mercado. A maior cautela do Copom também vem a contragosto do governo Lula Inácio Lula da Silva (PT), que defende uma queda mais rápida dos juros no país.
Apesar da divisão na votação, o Copom diz que, de forma unânime, avalia que o cenário global incerto, o cenário doméstico marcado por uma atividade econômica mais forte que a esperada e as expectativas de inflação acima da meta demandam maior cautela.
Sobre os próximos passos, o Copom diz que “a extensão e a adequação de ajustes futuros na taxa de juros serão ditadas pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
Segundo o Banco Central, a política monetária deve se manter contracionista até que se consolide não apenas o processo de queda da inflação, mas também “a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
O corte de 0,25 ponto percentual era a projeção de 22 dos 33 analistas consultados pela Bloomberg. No relatório Focus, a mediana das estimativas também era um corte para 10,50% ao ano.
Sondagem da XP Investimentos apontava que 55% dos 92 investidores institucionais consultados acreditavam no corte de 0,25 ponto, enquanto 45% esperavam manutenção do ritmo de 0,50 ponto.
Após a decisão, o EWZ, principal ETF (fundo de índice) que replica ações brasileiras em Nova York, recuava cerca de 1,60% nas negociações pós-mercado.
Na última reunião do comitê, em 20 de março, o colegiado sinalizou que poderia haver mais um corte da mesma intensidade. Houve, no entanto, mudança no discurso de vários integrantes do BC nas últimas semanas. Um fator determinante foi a piora no cenário internacional, com o banco central dos EUA, o Federal Reserve, sinalizando que os juros vão demorar mais a cair por lá.
No comunicado da decisão, o BC diz que o ambiente externo se tornou mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente em relação ao início da queda da taxa de juros nos Estados Unidos. No cenário doméstico, o comitê afirma que os indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho têm apresentado maior dinamismo do que o esperado.
“O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional devem se manter mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, diz o Copom.
Por aqui, a inflação passada melhorou, mas as expectativas para o futuro pioraram. O mercado de trabalho continuou forte, e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mudou a meta fiscal de 2025, sinalizando mais gastos.
Sobre a mudança promovida pelo governo na meta fiscal, o BC reafirmou que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida” contribui para a queda dos juros.
No texto o BC diz que a estratégia é trazer a inflação para 3% no “horizonte relevante para a política monetária”, que a partir dessa reunião passa a ser o ano de 2025. A inflação está em 3,93% nos 12 meses encerrados em março.
As projeções de inflação do Copom subiram de 3,5% para 3,8% em 2024 e de 3,2% para 3,3% em 2025.
“A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação desancoradas e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, disse o BC.
Desde o Copom de março, a expectativa de inflação para 2025 teve ligeira alta, as taxas de juros de mercado subiram e o câmbio depreciou, em um linha com o que ocorreu com outras moedas em relação ao dólar.
A moeda americana estava em R$ 4,96 na última reunião do Copom, chegou a bater em R$ 5,27, mas recuou para R$ 5,14 nesta semana.
Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirma que a reação do mercado à decisão dividida provavelmente será ruim, impactando os juros de médio e longo prazo. Segundo ele, uma decisão mais conservadora estava no preço. O fato marcante foi a divisão “certinha” entre os indicados por Jair Bolsonaro (PL) e os escolhidos por Lula.
Além disso, a calamidade no Rio Grande do Sul, e seus prováveis efeitos sobre a inflação local, pode levar o Copom a ser ainda mais defensivo à frente, afirma Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
O ciclo de flexibilização da Selic teve início em agosto do ano passado e, desde então, foram seis reduções seguidas de mesma intensidade (0,5 ponto percentual). O novo corte, agora de 0,25 ponto, levou a taxa básica ao menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava fixada em 9,25% ao ano.
A meta de inflação definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e perseguida pelo BC neste e nos próximos anos é de 3%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos. Isso significa que o objetivo é considerado cumprido se oscilar entre 1,5% (piso) e 4,5% (teto).
O último boletim Focus divulgado pelo BC mostra que a projeção de inflação para 2025 -que hoje tem maior peso na determinação do nível da Selic por causa da defasagem dos efeitos da política monetária na economia- voltou a subir, passando a 3,64%.
O Copom volta a se reunir nos dias 18 e 19 de junho para recalibrar o patamar da taxa básica de juros.